sexta-feira, 23 de março de 2007



O silêncio e Eu

Em memória aos dez anos da morte de

Mário Quintana (1906-1994).

Escrevo às 20:47h

de uma cama

num Grande Hotel

no 8 andar em POA

O bloco de notas

estava mudo

e o ar que entrava pela janela

era tão frio quanto o frescor que vinha do Guaíba

A TV ligada era a única

que me trazia o som à memória

mas, as palavras, ah! As palavras...

não falam comigo há seis meses

até que num instante, entra um velho, magro, de cigarro na boca,

boina na cabeça, de andar curvo e fala mansa

e senta-se na poltrona , do lado esquerdo da minha cama e, logo ele foi falando:

- calma! Meu bom rapaz. Calma. Tenha paciência.

Há dez anos que deixei Porto Alegre

Sinto saudades...

Hoje, daqui de longe

‘Olho o mapa da cidade

como quem examinasse

a anatomia de um corpo

(é nem que fosse o meu corpo!)

sinto uma dor infinita

das ruas de Porto Alegre

onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,

há tantas nuanças de paredes,

há tanta moça bonita

nas ruas que não andei

(e há uma rua encantada

que nem em sonhos sonhei...)

quando eu for, um dia desses,

poeira ou folha levada

no vento da madrugada,

serei um pouco do nada

indivisível, delicioso

que faz com que o teu ar

pareça mais um olhar

suave mistério amoroso,

Cidade de meu andar

(deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...’

Então, meu bom rapaz,

retribu-o à visita que tu me fizeste à minha casa pela 4 vez,

e não vim antes por causa da idade

então relaxa, meu bom rapaz, porque com a poesia é assim mesmo:

às vezes, saudades,

noutras vezes,

só nós

e

o

silêncio.

Escrito:

08.04.2004

2 comentários:

Renato Willian Lima disse...

Mário Quintana é mesmo um mestre, deu até saudade de Porto Alegre, mesmo eu nunca estando lá. Qualquer relação com Gonçalves Dias é mera coincidência ou propósito do poeta?(risos)
Abraço

Elisandro Borges disse...

Parabéns pelo talento nos textos e contos! E obrigado pelo link do seu blog!

Grande abraço!